Segundo o MP, Caio Maracajá Filho obteve vantagens ilícitas que somaram R$ 27.935,00
Moradoras do prédio confirmaram o esquema ilícito.
(Foto: Vanessa Rodrigues/AT)
O síndico de um prédio na orla da Praia da Pompeia foi condenado por 22 estelionatos e uma apropriação indébita cometidos em detrimento de condôminos e do edifício. As penas serão de limitação de fim de semana e de prestação de serviços comunitários ou a entidades públicas. A decisão é da 4ª Vara Criminal de Santos e cabe recurso ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Segundo o Ministério Público (MP), pelos 22 estelionatos, cometidos no período de 10 de junho de 2010 a 10 de outubro de 2012, Caio Maracajá Filho obteve vantagens ilícitas que somaram R$ 27.935,00. Entre abril de 2011 e outubro de 2012, o réu ainda teria se apoderado de R$ 8.193,59 pertencentes ao Condomínio Nóbrega.
Em sua sentença, a juíza Elizabeth Lopes de Freitas condenou o acusado pelos 23 delitos, considerando a materialidade deles “amplamente demonstrada”, inclusive por perícia contábil, e a autoria também comprovada, “não pairando quaisquer dúvidas a esse respeito”.
Pelos 22 estelionatos, a magistrada fixou a pena total em um ano e quatro meses de reclusão. Ela aplicou a regra do crime continuado, por considerar que tais delitos foram cometidos nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, devendo os subsequentes ser considerados como desdobramento do primeiro.
A mesma pena (um ano e quatro meses) foi fixada para a apropriação indébita, já reconhecida a causa de aumento referente ao fato de o réu, na qualidade de síndico, se valer de sua função e da confiança depositada pelas vítimas para se apoderar do valor mencionado na denúncia do MP. A soma das sanções totalizou dois anos e oito meses de reclusão, sendo fixado para o seu cumprimento o regime inicial aberto.
Porém, como Maracajá é primário e preenche outros requisitos legais, ele fez jus à substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos (prestação de serviços e limitação de fim de semana), cuja duração será o mesmo inicialmente previsto para a reclusão (dois anos e oito meses).
Negativa de crimes
Caio Maracajá Filho sempre negou os crimes que lhe são atribuídos, desde a fase do inquérito, mas isso não o livrou de ser indiciado pelo delegado Fernando Henrique Faria, à época assistente do 7º DP de Santos. As conclusões da autoridade policial deram base à denúncia do MP.
A defesa do síndico requereu a absolvição. Argumentou não haver prova dos fatos. Em relação à apropriação indébita, ainda sustentou que, se o acusado se apoderou indevidamente de valores do condomínio, não houve má-fé. Desse modo, não haveria crime, porque inexiste previsão deste delito na forma culposa (não intencional).
Citando “abundância de provas” a incriminar o réu e que ficou comprovada a sua “intenção criminosa”, a juíza acolheu o pedido do MP para condenar Maracajá, que foi síndico do Condomínio Nóbrega entre os anos de 2005 e 2012. Com 190 apartamentos e dois blocos de dez andares cada um, o prédio está localizado na Avenida Presidente Wilson, 117.
Sobre os reiterados estelionatos, o MP explicou que o síndico remunerava com valores superfaturados um homem prestador de serviços gerais ao condomínio. Eram emitidos cheques nominais a este colaborador, que ficava apenas com uma pequena parte, devolvendo o restante a Maracajá.
Duas moradoras do edifício há mais de 40 anos depuseram como testemunhas no processo e confirmaram o esquema ilícito. O próprio colaborador admitiu em juízo que ficava apenas com pequena parte do valor dos cheques emitidos a título de pagamentos, repassando a diferença ao síndico.
Segundo uma das moradoras, os valores pagos ao colaborador eram “desproporcionais” aos serviços realizados. Maracajá tentou desqualificar a versão das testemunhas. Afirmou ter desavença com uma das moradoras, porque ocupou o posto de síndico no lugar da mãe dela.
O réu também falou que um condômino com infiltração em seu apartamento passou a hostilizá-lo porque não o atendeu no sentido de realizar uma obra desfavorável aos interesses do condomínio. No entanto, “em que pese a negativa do réu, sua versão restou isolada e totalmente desprestigiada diante da farta prova colhida”, sentenciou a juíza.